A moça tecelã: um texto instigante

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21165/el.v48i2.2253

Palavras-chave:

hipertexto, hipotexto, palimpsesto, leitura palimpsestuosa

Resumo

A construção do texto de Colasanti (2012), “A moça tecelã”, versa sobre tecer um texto, o qual estamos tomando como objeto de análise da construção textual, cujo desenho é traçado pelo movimento das mãos da artífice manipulando a lançadeira, o tear, as linhas que constroem a escrita, a partir de seu grau zero, em decorrência da sua desconstrução. O fazer de um texto instigante como o de Marina Colasanti, apresentado no título, demanda uma série de leituras teóricas para acompanhar seu desenho construtor. Em vista disso, o objetivo deste artigo é analisar o fazer do texto. “Tecer era tudo que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer [...] e tecendo ela própria trouxe o tempo.”. Esse enunciado de Colasanti (2012, p. 12) pontua a construção de um texto, no qual cada laçada é um fonema e cada ponto construído é um sentido. Assim, recorremos a Genette (2010, p. 7) que investiga a produção do texto através do palimpsesto. O que é o palimpsesto? Para ele, é “um pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, que não a esconde de fato, de modo que se pode lê-la por transparência, o antigo sob o novo.”. Essa leitura do antigo sob o novo foi feita no texto de Colasanti (2012), ilustrando a teoria de Genette, quanto à criação do texto. Desse modo, nos permitiu navegar pelo hipertexto e pelo hipotexto, construções da transtextualidade, que podem ser feitas pela transformação e pela imitação. Estudamos Genette também num texto de Borges, uma vez que o mesmo propõe que sempre houve um só texto e um só autor, pensando no hipertexto e no hipotexto. Essa estratégia de leitura permite que o texto não seja contado, mas ele se conte por si mesmo. Com as sucessivas raspagens, o leitor vai encontrar a origem, o texto primígeno; nesse percurso, vai perceber a transtextualidade, um texto entrando em outro texto.

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Biografia do Autor

Nelyse Apparecida Melro Salzedas, UNESP/Bauru

Graduada em Letras Neolatinas, pela PUC/São Paulo, 1952; doutora em Literatura, pela USP, 1973; livre-docente em Teoria Literária, pela UNESP/Assis, 1983; professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UNESP/Bauru, onde orienta alunos de mestrado e doutorado. Tem extensa experiência na área das Artes, com ênfase em Comunicação, Linguística e Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: artes, comunicação, leitura de textos verbais e não-verbais, e no campo da linguagem. O link para seu currículo Lattes é http://lattes.cnpq.br/2209143767198382.

Rivaldo Alfredo Paccola, UFVJM/Diamantina

Licenciado em Letras – Português e Inglês, pela ITE/Botucatu, 1974; e Pedagogia, pela UNIFAC/Botucatu, 1992; bacharel em Direito, pela FKB/Itapetininga, 1981; especialista em Formação de Professores, pela USC/2002; mestre em Comunicação, pela UNESP/Bauru, 2002; especialista em Gestão Escolar, pela UNICAMP, 2007; doutor em Educação, pela UNESP/Marília, 2012; professor Adjunto da UFVJM/Diamantina – graduação e pós-graduação – onde orienta alunos de mestrado profissional. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em ensino-aprendizagem e gestão educacional, atuando principalmente com os seguintes temas: princípios da educação, avaliação, leitura de textos verbais e não-verbais, e no campo da linguagem, cinema e imaginário. O link para seu currículo Lattes é http://lattes.cnpq.br/1039421006825500

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Publicado

16-07-2019

Como Citar

Salzedas, N. A. M., & Paccola, R. A. (2019). A moça tecelã: um texto instigante. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), 48(2), 1030–1043. https://doi.org/10.21165/el.v48i2.2253

Edição

Seção

Artigos